terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

Uma nova maneira de pensar as classes de palavras

Conhecer as classes de palavras é fundamental para o estudo da Língua Portuguesa. Em geral, quando vamos estudar esse assunto, é comum encontrarmos nas explicações uma tradicional divisão das dez classes gramaticais em dois grandes grupos: 

Palavras variáveis: são aquelas que variam em gênero, número e grau (substantivos, adjetivos, verbos, artigos, pronomes e numerais).

Palavras invariáveis: são aquelas que não variam (advérbios, preposições, conjunções e interjeições).

Apesar de ser amplamente utilizada, essa maneira de agrupar as palavras não é muito eficiente e funcional para a introdução à morfossintaxe da nossa língua, pois, dificilmente, alguém irá lembrar dessa classificação ou mobilizar esse conhecimento de forma intuitiva. 

Pensando nisso, a professora Inez Sautchuk, em seu livro Prática de morfossintaxe (2018), sugere um outro modo de classificar as palavras da língua, o qual é baseado em duas grandes categorias iniciais: lexemas e gramemas.

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Lexemas e gramemas

Os LEXEMAS (ou morfemas lexicais) são as palavras que nomeiam os três elementos básicos do "mundo real":

Objetos: representados pelas substantivos;

Qualidades: representadas pelas adjetivos;

Ações: representadas pelos verbos.

Já todas as outras palavras são GRAMEMAS (ou morfemas gramaticas), isto é, palavras que servem para relacionar os lexemas, pois só existem no mundo gramatical.



Vejamos a explicação mais detalhada:

De acordo com Sautchuk (2018), 

"O LEXEMA é um tipo de palavra que contém informação básica de significado que representa o mundo extralinguístico ou remete a ele. Chamamos esse "mundo extralinguístico" de mundo biossocial/antropocultural, pois representa aquilo que se poderia definir como "o ser humano e a sua cultura na vida em sociedade'. Os lexemas constituem uma espécie de arquivo, de inventário aberto, já que, com a função de nomear essa realidade, podem apresentar um crescimento contínuo e teoricamente infinito de palavras em uma língua."

Quando lemos a palavra árvore, formamos na nossa mente uma imagem, o conceito representativo de árvore. O mesmo ocorre com outros  substantivos, como livro, girafa ou menina. Com os verbos e os adjetivos isso também acontece. Sabemos o conceito de chorar, em oposição a rir.. Assim como sabemos que feio representa algo oposto de bonito, e azul expressa algo diferente de pesado.

Por outro lado, isso não ocorre em relação ao GRAMEMAS, uma vez que esse conjunto de palavras remete exclusivamente a um mundo gramatical (ou linguístico) e é restrito à função de somente relacionar ou de estruturar o outro tipo de palavras. Ou seja, se lermos apenas a palavra essa, o, quando, por ou mais, não formaremos uma imagem representativa do mundo biossocial/antropocultural em nossa mente. Esse tipo de palavra constitui um inventário fechado, pois, em nossa língua, não se criam nem se modificam gramemas há muito tempo (SAUTCHUK, 2018).

Sendo assim, aí reside a importância de se dominar com segurança os processos de identificação dos substantivos, adjetivos e verbos, pois pertencem a um inventário aberto, que aumenta e se modifica com o passar do tempo, enquanto que as demais palavras, do inventário fechado, não se alteram facilmente e podem ser memorizadas.

Exemplos de classificação em lexemas e gramemas:

O

rato

cinzento

parecia

tão

sozinho.

gramema

lexema

lexema

lexema

gramema

lexema


A

menina

bonita

caiu,

porque

tropeçou

no

seu

vestido.

gramema

lexema

lexema

lexema

gramema

lexema

gramema

gramema

lexema

Exercício:

O

pobre

homem

não

tinha

um

centavo

para

gastar.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Eu achei fantástica essa abordagem da autora, especialmente, por sua simplicidade, que a constitui como uma ótima maneira de (re)pensar as classes gramaticais e introduzir esse tópico da Língua Portuguesa.

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Referências:

SAUTCHUK, I. Prática de morfossintaxe: como e por que aprender análise (morfo)sintática. 3 ed. Barueri, SP: Manole, 2018.